DUESSELDORF, Alemanha (AP) — Faltam 100 dias para as Olimpíadas de Paris, e ainda não se sabe se algum atleta russo, dentre os que devem se qualificar, realmente irá comparecer.

A questão é saber se Moscou aceitará as condições impostas à Rússia pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) em resposta à invasão da Ucrânia. Em última análise, pode depender dos atletas, individualmente, a decisão de participar ou não.

O COI espera que 36 atletas russos, possivelmente até 54, tenham um desempenho bom o suficiente nos eventos de classificação para competir em Paris.

O COI permitirá que disputem como “atletas neutros”, o que significa que não poderão usar a bandeira, nem o hino do país, nem participar de esportes coletivos, como futebol e basquete. Atletas com vínculos militares ou que tenham manifestado apoio à guerra serão banidos.

As mesmas restrições se aplicam a Belarus, aliada da Rússia. Atletas da Rússia e de Belarus também não poderão participar da cerimônia de abertura, no dia 26 de julho.

O presidente russo Vladimir Putin questionou as regras, e pediu ao Comitê Olímpico Russo (COR) e ao Ministério dos Esportes que deem seus pareceres sobre a participação dos atletas do país nos Jogos.

O COR e o Ministério dos Esportes têm opiniões diametralmente opostas.

Em publicações nas redes sociais, o presidente do COR, Stanislav Pozdnyakov, afirmou que o COI “repetidamente estabelece critérios ilegítimos” para os atletas e “consistentemente cumpre ordens políticas externas para isolar o esporte russo”. Em 5 de abril, ele comparou os tenistas russos interessados em competir em Paris com “uma equipe de agentes estrangeiros”, dizendo que eles jogam e ganham dinheiro principalmente fora da Rússia, e são críticos às suas políticas. O próprio Pozdnyakov ocupa o posto de coronel no exército russo.

Oleg Matytsin, ministro do Esporte, diz que a Rússia não deveria boicotar as Olimpíadas.

“Precisamos preservar ao máximo a possibilidade de diálogo e participar das competições”, disse Matytsin no mês passado, em fala divulgada pela agência de notícias estatal Tass.

A Rússia enviou 335 atletas a Tóquio em 2021, e conquistou um total de 71 medalhas, 20 de ouro. Os atletas competiram sem os símbolos nacionais naqueles Jogos, e também nos Jogos de Inverno de 2018 e 2022, em decorrência de um escândalo de doping.

A Ucrânia se opõe à participação da Rússia nas Olimpíadas de Paris a qualquer título, mas flexibilizou sua política de boicote aos eventos onde competem russos “neutros”.

Thomas Bach, presidente do COI, deu a entender no mês passado que “ameaças de boicote” dos dois países não eram mais um problema.

“Agora podemos dizer que esta discussão, neste momento, acabou”, disse Bach durante uma reunião de dirigentes desportivos do Pacífico, em Fiji. “Ainda temos opiniões divergentes. Alguns dizem que estamos indo longe demais com as sanções contra aqueles que violaram a Carta Olímpica. Outros dizem que não fizemos o suficiente. Normalmente isso demonstra que estamos em uma boa posição, se nenhum dos lados está 100% feliz.”

O posicionamento do COI em relação à Rússia levou a pedidos esparsos para que uma abordagem semelhante fosse adotada em relação a Israel pela guerra em Gaza. Bach descartou essa possibilidade no mês passado.

Uma delegação russa neutra seria constituída principalmente por atletas que participam em esportes de combate, como judô e luta livre, e provavelmente vários dos melhores tenistas do mundo, incluindo o ex-campeão do Aberto dos EUA, Daniil Medvedev. Ele disse ao jornal russo Sport-Express este mês que pretendia competir em Paris. Pelo menos três ciclistas e um trampolinista também devem ser incluídos.

Ativistas ucranianos estão monitorando a atividade dos atletas russos nas redes sociais, e sinalizando qualquer conteúdo que considerem uma violação às regras de neutralidade do COI.

Um dos atletas que vêm sendo observados de perto é o lutador Abdulrashid Sadulaev, duas vezes medalhista de ouro. Inicialmente, ele havia sido aprovado para participar das eliminatórias olímpicas, mas perdeu esse status em 4 de abril, em razão de “novas informações sobre seu apoio à guerra Ucrânia-Rússia”, segundo o órgão regulador das lutas esportivas. O Comitê Olímpico Nacional da Ucrânia enviou uma carta-aberta a Bach na sexta-feira, alegando que outros nove lutadores russos classificados, e um belarusso, haviam apoiado a guerra.

Doze russos se classificaram até agora apenas nas lutas, e outros podem conseguir no mês que vem.

O judô, um dos esportes favoritos de Putin desde a infância, poderia levar de 10 a 12 russos a Paris, segundo estimativa da Federação Internacional de Judô.

No entanto, alguns influentes treinadores e dirigentes russos se recusaram a enviar seus atletas para os eventos de classificação.

A federação russa de remo disse que iria ignorar as próximas eliminatórias em protesto contra o que seu presidente considera “condições discriminatórias”.

A natação e a ginástica abriram inscrições para atletas neutros, mas não se sabe se os principais atletas russos chegaram a se inscrever. Dezenas de inscrições de belarussos foram aprovadas.

Independentemente do que seja decidido em Moscou, a Rússia não competirá no atletismo olímpico.

O órgão regulador do esporte, World Athletics, não recuou da proibição contra atletas russos e belarussos nas competições que organiza, incluindo eventos olímpicos.

___ Olimpíadas AP: https://apnews.com/hub/2024-paris-olympic-games

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Esta matéria foi originalmente publicada em inglês em 17 de abril de 2024.